Ontologia com e sem tempo Sen. Ep. 54
António De Castro Caeiro
Na epístola 54 (Sen. Ep. 54), Séneca revê alguns dos conceitos fundamentais da ontologia aristotélica e platónica. Analisa os “seis modos” em que o “ser se diz”. Em causa não está apenas uma tradução para latim que veio a conformar o nosso acesso ao pensamento clássico grego. É de uma interpretação que se trata. De facto, o que está mais distante de “to on”, a substantivação do neutro do particípio presente do verbo “einai” do que a interpretação “quod est”. Mas a articulação subordinativa: genus, species, em “divisiones” só pode descer até aos “singuli”. São os “singuli” dependentes das “speciei” e dos “genus”? Existem independentemente? E o acesso a cada indivíduo singular é dado em si ou através de uma “idea”, concebida como “exemplar aeternum”. A relação intrínseca entre alguém, a sua “facies”, a sua “imitatio”, implica a identificação de um “idos” (eidos). O pensamento da complexificação articula: ratio essendi e ratio cognoscendi. O interessante da epístola 58 é o facto de trazer o tempo como o operador dinâmico que arranca à sua dimensão estática o que podemos chamar com Kant uma determinação matemática. O que é, o género, a espécie, o indivíduo, o aspecto, a manifestação aqui e agora do que quer que seja, tudo está submetido à estrutura original do tempo: omne momentum sit mors prioris habitus (Ep. 58, §23.).